As cartas do apóstolo Pedro estão classificadas entre as “epístolas gerais” por
não se dirigirem a uma igreja ou a uma pessoa específica, mas ao povo de Deus em geral. A primeira carta teve o objetivo de consolar os irmãos que sofriam com as perseguições. A segunda carta foi escrita para exortá-los no sentido de crescerem espiritualmente (2Pe 1.12; 3.18). Gostamos de ser consolados, mas não exortados. Entretanto, não podemos recusar este precioso aspecto da Palavra do Senhor para nós. Exortação é admoestação e incentivo.
Mas como aconteceria o crescimento espiritual? Viria com o passar do tempo? Seria automático? Não. O crescimento seria promovido pela aquisição de uma série de qualidades relacionadas por Pedro:

“E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a bondade, e à bondade o conhecimento, e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor” (2Pe 1.5-7).

Isto nos faz lembrar uma lista de ingredientes usados para fazer um bolo. Coloque farinha numa vasilha, depois acrescente ovos, leite, açúcar, manteiga, sal e fermento. Misture bem, coloque numa forma untada com óleo e deixe assar por 30 minutos.

Se faltarem os ingredientes, a receita não pode ser executada. Assim também, as virtudes espirituais que Pedro listou são importantes, necessárias e imprescindíveis em nossas vidas.

Aqueles irmãos já possuíam fé, já acreditavam em Deus e em Jesus Cristo, conforme vemos no primeiro versículo daquela carta. A fé é fundamental, mas não é tudo. Ela é apenas o início do processo. De nada adianta alguém se vangloriar de ter uma grande fé se não tem as outras virtudes citadas.

Também precisamos da bondade. Assim, a nossa fé não será usada para o mal, como acontece em atentados terroristas ou em “trabalhos” espirituais para matar. A fé sem bondade produz exploração, manipulação, orações contrárias e até inquisição.

Em terceiro lugar, Pedro colocou o conhecimento. Precisamos conhecer a bíblia e também ao próprio Deus por meio de experiências vividas com ele. O conhecimento sem a fé não nos será útil, enquanto a fé sem o conhecimento pode se transformar em superstição e fanatismo. Seria uma fé ingênua, pronta para aceitar as heresias dos falsos mestres (2Pd 2.1).

Depois, precisamos ter o domínio próprio. Sem o autocontrole, a fé, a bondade e o conhecimento podem perder o seu valor, assim como acontece com um carro potente sem freio. O cristão precisa controlar os apetites, a ira e as ambições. Quem não controla seus desejos e impulsos acaba entregando o controle de sua vida a outra pessoa, seja o médico, o policial, juiz ou carcereiro. É pela falta do domínio próprio que vêm os escândalos, e não por falta de fé ou conhecimento.

Em quinto lugar, Pedro citou a perseverança, ou seja, precisamos ser insistentes na prática do bem e fiéis nos compromissos assumidos com Deus e com os homens. O cristão não pode desistir facilmente dos seus propósitos (Lc 18.1-7; Ap 2.10). Perseverança é determinação e firmeza diante das dificuldades naturais e dos ataques espirituais. Muitas pessoas são tão inconstantes que caem sozinhas. Satanás nem atacou, mas elas já foram a nocaute. Não vamos confundir perseverança com teimosia ou insistência irracional. Não podemos perseverar no erro (Ec 8.3). Desistir pode ser necessário (2Co 12.8-9), mas precisamos ser pessoas que costumam concluir o que começaram.

Depois vem a piedade que, nesse contexto, não significa pena, dó ou compaixão, mas devoção e dedicação a Deus. O cristão não pode viver para si mesmo, colocando seus próprios interesses como o centro do evangelho. Para evitar isso, devemos realizar ações para Deus, com o único propósito de agradá-lo. Aqui entra o louvor, a adoração, a oração, o jejum e a oferta, principalmente quando não são vistos pelos homens.

Em penúltimo lugar, Pedro mencionou a fraternidade, que é o amor aos irmãos. Este não pode ser apenas uma teoria ou um sentimento, mas precisa se materializar na prática da comunhão, da participação e do serviço. Fraternidade sem piedade torna-se apenas relação social. Piedade sem fraternidade produz a religião individualista e isolada. Encontramos fraternidade em muitas religiões e sociedades, mas está fora do legítimo contexto cristão, separada do conjunto de virtudes mencionadas pelo apóstolo. Precisamos nos dedicar a Deus e aos irmãos: piedade e fraternidade precisam andar juntas.

O último elemento é o amor. Este vai além da fraternidade porque não se aplica apenas aos irmãos, mas ao próximo de modo geral. É um nível de amor sacrificial. É a capacidade de amar até mesmo os inimigos humanos, conforme Jesus ordenou.

Certa vez, os moradores de uma cidade não aceitaram a entrada de Jesus, então João e Tiago perguntaram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para consumi-los como Elias também fez”? (Lc 9.54). Evidentemente, Jesus não permitiu tal coisa. Aqueles discípulos eram dois irmãos unidos. Demonstraram ter conhecimento, pois sabiam da história de Elias. Tinham também fé suficiente para pedir fogo do céu, mas não tinham amor ao próximo.

Ao fazer um bolo, podemos substituir alguns ingredientes, por questão de negligência, economia ou criatividade. O resultado pode ser maravilhoso ou terrível, mas cada um comerá o bolo que tiver feito. Não poderemos nos esquivar das consequências do modo de vida que escolhemos.

Se tivermos os ingredientes certos em nossas vidas, todos eles, obteremos excelente resultado:
“Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pe 1.8). Desta forma, seremos cristãos trabalhadores e produtivos na obra do Senhor e, acima de tudo, agradáveis ao nosso Deus.

Fonte: Lagoinha.com